Luís Marques Mendes considera que "Juntar PSD e Chega numa qualquer plataforma governativa é, no plano da coerência, naufrágio anunciado". Num longo artigo publicado esta quarta-feira no Diário de Notícias, com o título "Novo ciclo político - um desafio e um impasse", o ex-líder do PSD, comentador e conselheiro de Estado mostra-se pessimista com o futuro próximo e fala mesmo de risco "de ingovernabilidade política".
"Temo que, a somar à pandemia e à crise económica e social, possamos cair na tempestade perfeita. Acrescentando a estas duas crises o risco da ingovernabilidade política", afirma. Começando por diagnosticar uma queda imparável do Governo socialista que "está sem força, sem autoridade e sem norte. Numa degradação irreversível, que já nem uma remodelação conseguirá inverter".
Mas nem a realização de eleições legislativas oferece, na opinião de Marques Mendes, um horizonte de esperança no futuro próximo. Pelo contrário, escreve, "a situação só tende a piorar, gerando graves bloqueios" e a "ameaça de ingovernabilidade, à esquerda e à direita, espreita com grande crueldade".
À esquerda, considera Marques Mendes, "sem uma maioria absoluta monopartidária de todo imprevisível, até pode continuar a haver uma maioria de votos e deputados, mas não haverá um mínimo de coerência para governar". "É tudo táctico, tudo avulso, tudo pontual, tudo conjuntural. (...) Não se garante um governo forte, uma acção reformadora e a transformação do país", E a economia e a sociedade acabarão a "pagar a factura".
À direita, o ex-líder do PSD considera que "o problema é diferente mas não menos grave. Provavelmente nem governo alternativo, muito menos governo forte". Com a pulverização partidária neste lado do expectro político a "dificultar e muito a construção de uma alternativa maioritária, estável e coerente".
Marques Mendes antecipa que, a confirmar-se este quadro de falta de soluções de Governo estáveis e fortes, "ainda vamos ver muito boa gente a invocar soluções miríficas ou ideias sebastiânicas – tipo governos presidenciais – que simplesmente não existem. São pura ficção cientifica".
O comentador reconhece, no entanto, que "precisamos ardentemente de começar a fazer o que é importante e não apenas o que é urgente" porque "há duas décadas que passamos o tempo a fazer o que é conjunturalmente urgente – tapar buracos e aplicar remendos". Quando aquilo de que o país precisa é de de "um novo modelo de desenvolvimento, um programa ambicioso de crescimento e de competitividade, uma estratégia de mobilização colectiva". Esse, diz, " é o grande desafio nacional" há anos adiado.
Sobre o segundo mandato de Marcelo Rebelo de Sousa, Mendes diz que o Presidente reeleito vai ser "as duas coisas ao mesmo tempo, igual e diferente – igual nos princípios, diferente face às circunstâncias". E nas circunstâncias difíceis que o país atravessa, a sua opinião é que "por mais talentoso que seja, um Presidente não faz milagres. E não se substitui aos partidos".
"É bom ter os pés bem assentes na terra. Ter esperança, sim. Criar falsas ilusões, nunca", conclui Marques Mendes, no que não deixa de ser um desafio ao PSD e ao CDS para que, em vez de esperarem que seja Marcelo a resolver-lhes a vida, tratem de pensar a sério na crise que a direita atravessa.
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: AVSilva@expresso.impresa.pt