A Codelpor, uma das empresas que alegadamente foi convidada pela Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) para apresentar propostas nos dois concursos para o fornecimento de golas e kits de autoproteção, garante que nunca foi contactada pelo organismo para esse efeito.
“Isso não corresponde à verdade. Nunca fomos consultados pela Proteção Civil para os concursos das golas e dos kits. Aliás, isso nunca me passaria despercebido porque tenho ligações com os bombeiros”, disse ao Expresso Luís Vasco Cunha, presidente da Coldelpor – Comerciantes de Eletrodomésticos Portugueses, SA e dirigente da Associação de Bombeiros Voluntários da Praia da Vitória, nos Açores.
O responsável garantiu ainda que a sua empresa só assinou no passado contratos com a Proteção Civil nos Açores e Madeira relativos à venda de eletrodomésticos e televisores. “O nosso negócio nunca envolveu produtos como golas ou kits de autoproteção, nem o nosso objetivo passou alguma vez por aí. Isso sairia da nossa esfera. Nunca nos interessámos por esses negócios do desenrasque”, acrescentou o presidente da empresa de comércio de eletrodomésticos que faturou 60 milhões de euros em 2018.
Confrontada sobre as declarações do presidente da Coldelpor, a Proteção Civil recusou-se a comentar, invocando o facto de estar a decorrer um inquérito, razão pela qual “não se pronuncia mais sobre quaisquer questões relacionadas com o assunto”. Contactadas pelo Expresso, as outras empresas negaram-se também a prestar esclarecimentos sobre o caso.
Na sexta-feira, a ANEPC afirmou ao Expresso que recorreu a dois procedimentos de Consulta Prévia com consulta às seguintes empresas:
Foxtrot Aventura, Unipessoal, Lda,
Brain One, Lda,
Codelpor, S.A,
MOSC – Confeções. Lda,
EDSTATES – Confeções e Bordados, Unipessoal, Lda.
A ANEPC explicou que no primeiro concurso a Foxtrot Aventura foi a única das entidades convidadas que apresentou proposta, enquanto no segundo foi a empresa que ofereceu a proposta com o preço mais baixo. Mas recusou-se a explicar porque foi ultrapassado o limite previsto para o regime de consulta prévia.
Ricardo Peixoto Fernandes, dono da Foxtrot, afirmou que o material da gola – 100% poliéster – foi escolhido pela ANEPC e que o objeto visava apenas sensibilizar para as medidas preventivas, não servindo para o combate aos incêndios.
Este caso já levou esta segunda-feira à demissão de Francisco José Ferreira, adjunto do secretário de Estado da Proteção Civil, José Artur Neves. Segundo o “Jornal de Notícias” foi Francisco José Ferreira quem recomendou as empresas para a compra das 70 mil golas antifumo inflamáveis e kits de autoproteção, que foram distribuídos a milhares de pessoas no âmbito dos programas “Aldeia Segura, Pessoas Seguras.”
No sábado, o ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita – que um dia antes desvalorizou a polémica – , pediu esclarecimentos à ANEPC e anunciou a abertura de um inquérito urgente sobre o caso.
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