Odília Pinto tem 73 anos e há décadas que mora no Bairro do Batateiro, um conjunto de prédios sem muita graça colado ao recinto da festa do Avante, no Seixal. "Em frente à minha casa era o campismo. Agora, só permitem caravanas. Não me importo nada. Neste bairro não acontece nada. Nada. E eu adoro os três dias da festa. Gosto do movimento e da confusão, de ver os miúdos, da vida que isto ganha." E não é só ficar a ver da varanda: "Compro bilhete para os três dias e vou todos os anos com o meu marido. No ano passado, já me custou um bocado a andar por causa de uns problemas que vou tendo. Mas vou porque gosto da festa, da organização e dos músicos que que vão lá tocar. Ah, os Xutos!."
Mas este ano Odília não será uma das 16.653 pessoas que a Direção-Geral da Saúde autoriza a estarem em simultâneo no recinto, menos de metade da lotação máxima de que tinha falado o Partido Comunista Português. "Desta vez., não. Estamos no meio de uma pandemia e a situação não está a melhorar. Eu não passei dois meses fechada em casa para agora me expor a um risco desnecessário. A festa devia ser adiada. Já não digo cancelada, mas pelo menos adiada, o risco de haver um surto é real. E logo este ano, que vêm os Xutos, e logo eu, que adoro os Xutos".
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