"A não ser que haja surpresas positivas, usaremos na totalidade o envelope do PEPP", afirmou Christine Lagarde na conferência de imprensa desta quinta-feira que se seguiu à reunião de política monetária do Banco Central Europeu (BCE).
O envelope do programa de compra de ativos lançado em março em resposta à pandemia do Covid-19 - conhecido pela sigla PEPP (pandemic emergency purchase programme) - foi reforçado, em junho, em €600 mil milhões, apontando para um montante total de €1,35 biliões a usar até final de junho de 2021.
Face à especulação de que o BCE poderia não usar o montante total do envelope em virtude de melhorias visíveis nos mercados financeiros, a presidente do banco central reafirmou, com ênfase, que a estratégia de concretizar essa injeção monetária se mantém - a não ser que surpresas positivas surjam o que, por ora, não é expectável em termos de cenários de crescimento e inflação na zona euro.
O rumor de que o envelope poderia não ser usado na totalidade surgiu em virtude da redução nas compras do PEPP nas primeiras semanas de julho.
Desde o início do programa em março, o BCE já comprou 383 mil milhões de euros em ativos, a um ritmo crescente de 103 mil milhões em abril (o primeiro mês completo do programa), 116 mil milhões em maio e 120 mil milhões em junho. Nos primeiros dez dias de julho, o BCE adquiriu menos de 30 mil milhões, abaixo do ritmo diário do mês anterior.
Lagarde sublinhou que o programa é gerido com "flexibilidade". pelo que podem ocorrer flutuações no volume mensal de compras.
O horizonte temporal do PEPP está definido "pelo menos" até junho de 2021 e o plano de reinvestimento das amortizações dos títulos em carteira adquiridos neste âmbito estende-se até final de 2022.
Apesar de reconhecer que no mercado da dívida pública, os juros e os prémios de risco desceram após as medidas tomadas pelo BCE desde meados de março, Lagarde chamou a atenção que se encontram ainda em níveis acima do período anterior à pandemia.
A francesa reconheceu, ainda, que "a atividade económica na zona euro melhorou em maio e junho", mas a perspetiva continua "altamente incerta tanto em termos da própria pandemia como no plano económico". Pelo que o cenário-base avançado em junho se mantém: forte contração da economia da zona euro em 2020 seguida de mais de dois anos de recuperação até regressar ao nível de 2019.
O Conselho do BCE só revisita as projeções macroeconómicas na próxima reunião a 10 de setembro.
A presidente do BCE acrescentou que a atuação do banco é reforçada por outro braço da política monetária, o do financiamento do sector bancário através das linhas de refinanciamento de longo prazo, que demonstram "um grande e enorme sucesso".
O financiamento de longo prazo aos bancos somava 1,6 biliões de euros no balanço do BCE a 10 de julho, em virtude do reforço no final de junho com um aumento líquido de 564 mil milhões de euros, após a corrida dos bancos à terceira linha de refinanciamento TLTRO ( targeted longer-term refinancing operation). Christine Lagarde acentuou que esta linha de financiamento "tem condições muito atrativas e não tem qualquer estigma associado ao seu recurso".
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