Os portugueses estão preocupados com a sustentabilidade futura do sistema público de pensões, mas gostariam de reformar-se cedo e acham que deve ser o Estado a assegurar-lhe uma pensão de reforma. As conclusões constam da mais recente sondagem realizada pelo Instituto BBVA de Pensões, apresentado esta quarta-feira em Lisboa.
De acordo com a quinta edição da sondagem As pensões, os hábitos de poupança e o perfil do aforrador em Portugal, mais de dois terços dos portugueses (67%) estão preocupados ou mesmo muito preocupados com o futuro do sistema público de pensões. Uma percentagem que tem vindo aumentar cada vez mais, já que no ano passado ficava nos 53%. Contudo, segundo a mesma sondagem, 82% dos portugueses consideram que a responsabilidade de garantir uma pensão de reforma adequada compete ao Estado.
"É um paradoxo", afirma Jorge Bravo, professor da Information Management School da Universidade Nova de Lisboa (NOVA IMS) e membro do Fórum de especialistas do Instituto BBVA de Pensões. E continua: "As pessoas pressentem que não vão conseguir atingir os seus objetivos para a reforma - até porque quase metade dos inquiridos diz não acreditar que possam viver sem dificuldades quando se reformarem - mas dizem que a responsabilidade de garantir valores adequados é do Estado".
Num contexto em que mais de 90% dos inquiridos consideram que é preciso poupar para a reforma, a sondagem indica que há mais portugueses a poupar, seja para a reforma ou para outros fins. O seu número fica, contudo, ainda longe dessa fasquia dos 90%. Segundo esta sondagem, 62% da população entre os 18 anos e os 65 anos (que não estão reformados) conseguem poupar mensalmente, de forma regular (o que compara com 43% na sondagem do ano passado). Já o valor médio mensal de poupança atinge 221,2 euros (164,4 euros na edição do ano passado).
Entre os que não poupam, seja para a reforma ou para outros fins, 75% aponta que a razão é não ter capacidade financeira para o fazer. Para além da falta de capacidade financeira, outra das principais razões apontadas para não poupar para a reforma é considerar que ainda falta muito tempo para essa altura.
Estes resultados indicam que "há espaço para mecanismos automáticos de poupança, que forcem a disciplina financeira das pessoas", considera Jorge Bravo. Isto porque "já interiorizaram que é do seu interesse poupar, mas muitas ainda não o fazem", aponta. Uma parte dessas pessoas não poupam por incapacidade financeira e aí, só melhores salários podem permitir ultrapassar o problema. Mas outras têm capacidade financeira para poupar, apesar de não o fazerem. "Só falta um empurrãozinho", defende Jorge Bravo. E aponta o exemplo do Reino Unido, onde os trabalhadores são automaticamente inscritos num sistema de poupança para a pensão de reforma, podendo renunciar à participação. (podem escolher sair do sistema). Mas, mais de 70% dos inscritos não renuncia. Neste sistema, que aplica os princípios da Economia Comportamental, "a inércia significa poupar", frisa ata Jorge Bravo.
Reforma desejada antes dos 59 anos
Outra das conclusões desta sondagem é que os portugueses têm uma idade desejada de reforma em média de 58,8 anos, mas acreditam que vão ter de esperar até aos 64,5 anos. Isto quando, na realidade, a idade normal de acesso à reforma em Portugal, sem penalizações, é ainda mais elevada: está nos 66 anos e 4 meses e tem subido um mês todos os anos, em linha com o aumento da esperança de vida.
"Há um desajuste claro que pode levar as pessoas a tomar decisões de trabalho, consumo e poupança que não têm em conta todo o seu ciclo de vida", remata Jorge Bravo.
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