Política

Depois da covid-19, Costa "espera" e quer "evitar" austeridade

Depois da covid-19, Costa "espera" e quer "evitar" austeridade
MÁRIO CRUZ

António Costa foi ao programa de Manuel Luis Goucha, na TVI, dizer que só é possível levantar medidas de restrição quando a epidemia estiver sob controlo. E admitiu que "seguramente" virá uma segunda vaga da doença. A olhar para o futuro, Costa afirma que o tratamento para a economia não pode ser dado com doses de austeridade.

Depois da covid-19, Costa "espera" e quer "evitar" austeridade

Liliana Valente

Coordenadora de Política

Na estratégia do Governo há dois planos a correr em simultâneo, o plano do imediato e o do futuro - e nenhum deles é previsível. No plano imediato, Costa espera pela renovação da próxima semana do estado de emergência até ao final de Abril, porque "ainda é cedo" para começar a aliviar medidas de restrição. No plano futuro, espera para ver a mossa com que fica a economia, mas à partida rejeita doses de austeridade como tratamento.

As palavras foram escolhidas com pinças. Costa "espera" e quer "evitar" austeridade e são esses os verbos que usou na conversa que teve esta sexta-feira de manhã no programa de Manuel Luís Goucha, na TVI. A primeira formulação é a de "esperar que a austeridade não entre na vida dos portugueses”. A segunda a de "evitar". "Temos de evitar a todo o custo ter austeridade, não ajudaria, só complicaria", disse. Por fim, a de que essa seria o pior remédio para uma doença nas contas que tem origem diferente daquela de há dez anos. "O pior que podíamos fazer era deitarmos austeridade ainda para cima", reforçou.

Desta conversa, o que fica certo é que na cabeça do chefe de Governo a intenção é a de optar por políticas expansionistas para contrariar os efeitos da crise, como aliás alguns socialistas já têm vindo a terreiro falar. Mas não o disse. Preferiu concentrar-se na rejeição da austeridade com cautelas para que qualquer frase dita agora não lhe possa ser cobrada no futuro. O que Costa afirmou foi que a crise de agora "é diferente" e como tal não pode ser tratada com da mesma forma que a de 2008. "Há dez anos havia um problema das finanças dos estados. Agora temos um problema de saúde que atingiu a economia. Os estados vão sofrer", assumiu. Por isso, a ideia é "controlar a pandemia para não afectar a economia e depois tratar da economia para que não afecte as finanças do Estado. Só se falharmos na saúde e na economia é que vamos ter um problema nas finanças do Estado", reforçou.

Antes de chegar a esta fase, é preciso perceber em que estado vão ficar as empresas. E estas vão sofrer mais quanto mais tempo a economia ficar parada. Neste aspecto, Costa assume que pode haver decisões que poderiam ser diferentes, mas que só pode tomar decisões com base na informação que tem disponível.

"Ficaria surpreendido", se PR não renovasse emergência

A informação que dispõe leva- o a dizer que "ainda é cedo" para levantar medidas de restrição e que pelo menos até ao final do mês de Abril o estado de emergência não será levantado. "Ficaria muito surpreendido que o senhor Presidente da República na próxima semana não propusesse um prolongamento do estado de emergência, ainda que com um abrandamento das medidas", disse. Ou seja, o primeiro-ministro admite que possa haver alterações nos decretos que mudem as medidas aplicadas para a terceira quinzena em estado de emergência.

Mas o Governo só vai "levantar medidas quando o risco for controlável", assumiu. "Cada vez que levantarmos estas medidas, o risco de contaminação vai subir. Só podemos levantar quando o risco for controlável", disse.

Em causa está o facto de só poderem ser levantadas as restrições quando a curva de novos contágios diminuir e esteja de tal modo controlada que seja possível identificar as cadeias de contágio. Quando isso pode acontecer? "Não lhe sei dizer", respondeu Costa. O primeiro-ministro diz que ainda não há consenso sobre se já passámos o pico ou se estamos agora no chamado planalto. “Não sei se afastámos o pico, temos tido um aumento de 6% nos últimos três dias. Temos de perceber se já chegámos ao planalto". A frase foi dita ainda antes de se saber que nas últimas 24h esse aumento foi de 11% - com o pior número absoluto do surto por cá.

Depois de passada esta fase e até haver vacina, Costa deixa no ar a mensagem que tudo voltará a acontecer: "seguramente vai haver" uma segunda vaga, admitiu. Para essa altura, garante que estaremos melhor preparados, lembrando que o país está a duplicar o número de ventiladores.

Costa pediu a Banco de Portugal para estar atento a créditos

O primeiro-ministro adiantou ainda ter pedido ao Banco de Portugal que “esteja atento” à utilização dos créditos com garantias de Estado, salientando que é o momento de a “banca retribuir” o “enorme esforço” dos portugueses. "A banca tem de ter mesmo uma função diferente daquela que habitualmente tem” e que este é “o momento de a banca retribuir ao país o enorme esforço que o país fez para recuperar a banca”.

“Eu acho que os bancos têm vindo a ser sensibilizados. Ainda nesta semana o senhor Presidente da República reuniu-se com os presidentes dos cinco maiores bancos para os procurar sensibilizar, eu próprio já pedi ao Banco de Portugal para que esteja atento, designadamente à forma como estão a ser utilizados estes créditos com garantias de Estado”, disse. "Deve haver supervisão relativamente a isso”, finalizou.

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